Síntese do Texto: Milpas Educativas: Entramados socionaturales par el buen vivir

 



O autor, a partir de uma perspectiva crítica da interculturalidade, analisa os processos educativos e os resultados do projeto “Milpas educativas para o bem viver”, um projeto de pesquisa-intervenção que foi desenvolvido de 2017 a 2019, nas regiões de Chiapas, Puebla, Michoacán e Oaxaca, no México, envolvendo 48 comunidades indígenas.

O projeto foi coordenado por Bertely e Sartorello e financiado pela Fundação WK Kellogg, realizado por um grupo intercultural envolvendo várias instituições e pesquisadores. Foram envolvidos no projeto 1.205 crianças, 92 professores e 1.097 membros das comunidades onde o projeto foi realizado, bem como o uso de 6 línguas nativas.

O texto apresenta um marco teórico a partir do termo viver bem, tendo como referência o lekil kuxlejal dos povos Tzeltal e Tzotzil de Chiapas e os conceitos de interculturalidade e decolonial, usando autores como Sánchez àlvarez (2012), Walsh (2012), Sartorello (2010), Gasché (2008a, 2008b), Bertely Busquets (2007a, 2007b), entre outros.

A proposta do projeto era integrar o trabalho escolar com as atividades realizadas na comunidade, visando sair da escola e entrar no território das comunidades buscando analisar os saberes, ações, sentimentos, pensamentos e vidas, como geradores do quadro socionatural comunitário que contribui para o bem comum dos povos indígenas. Nesse sentido, as milpas educativas foram concebidas como espaços de formação e aprendizagens nos territórios envolvidos.

O projeto foi desenvolvido a partir de quatro pilares do Método Indutivo Intercultural (MII): pedagógico, político, epistemológico e filosófico. Segundo o autor, o pilar pedagógico parte da premissa que o conhecimento indígena costuma ser basicamente oral e vivencial e está guardado na memória histórica da comunidade e nas vivências dos moradores da comunidade, desenvolvendo-se no âmbito da prática comunitária; o pilar político enfatiza a importância das lutas de organizações indígenas inspiradas no movimento zapatista como a UNEM/EI (organização indígena anticapitalista formada por educadores comunitários de Chiapas, politicamente próximos ao movimento zapatista), buscando explicar  o horizonte político de um projeto educacional em que se denunciam as profundas assimetrias sociais, econômicas, educacionais etc., produto de um sistema capitalista neoliberal; o pilar epistemológico é um dos fundamentos do MII que se manifesta no calendário socionatural, o instrumento pedagógico a partir do qual, de acordo com a estação do ano, a atividade produtiva, alimentar ou ritual etc., que será trabalhada em, é selecionado em processos educativos; e o pilar filosófico que enfatiza a dimensão ontológica da proposta educativa, deixando claro que a “descolonização não é simplesmente uma questão intelectual e política, mas, e mais importante, uma questão da existência” (Walsh, 2012:64).

O texto traz ainda um mapeamento dos quadros socionaturais da comunidade para o bem viver, usando para tal, o mapa vivo, como um recurso para essa finalidade uma vez que eles captam os saberes, ações, vidas e sentimentos que os habitantes da comunidade desenvolvem nas atividades sociais, políticas, produtivas, alimentares e rituais que realizam no território da comunidade para viver de acordo com sua visão de mundo e valores sociais.

Concluindo, o autor aponta que o projeto Milpas Educativas para o Bem Viver, mesmo sendo caracterizado por uma busca incessante e inacabada de fortalecer os marcos socionaturais comunitários que favorecem uma boa vida, foi um projeto falho porque não conseguiu ir além de uma primeira abordagem teórico–metodológica para enfrentar um problema tão complexo e articulado no qual os processos educativos podem desempenhar um papel relevante, pois há outros processos sociais, políticos, econômicos etc., endógenos e exógenos, que afetam o comum.

O autor aponta que, ainda assim, o projeto tem pontos positivos como: os quatro pilares do MII, a participação dos sábios e especialistas comunitários, a insistência em sair da sala de aula para ir ao território da comunidade, e o mapa vivo como uma estratégia metodológica e o processo colaborativo para a sua elaboração.

 Referência

SARTORELLO, Stefano. Milpas educativas: Entramados socionaturales comunitarios para el buen vivir.  Revista mexicana de Investigación Educativa, 2021, VOL. 26, PP. 283-309.


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